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Sexta. Fim de tarde. Está frio em Brasília e deu vontade de comer fondue. Vamos?

Eu, ele e duas crianças. Não. Uma criança e um bebê. Uma criança de 3 anos e um bebê de 3 meses. Peraí, pensa bem. Fondue não combina com criança. Combina? 

Balança o bebê no carrinho com a perna enquanto corta a carne pro garoto. Beberica a taça de vinho. Mergulha o pão no queijo. Espera. Leva o menino pra fazer xixi. Não, filho. Não pode tocar guitarra aqui. 

Na volta, o casal da mesa ao lado, incomodado com a proximidade do bebê, sugere a mudança de lado do carrinho. “Pode pingar óleo aí, sabe como é”. Você corre e troca o bebê de lado quase como um pedido de desculpas pelo olhar atravessado que recebeu desde a chegada. 

Beberica mais vinho rindo dos olhares das mesas ao lado porque a habilidade de balançar o bebê no carrinho guarda-chuva de 100 reais com uma única perna precisa ser comemorada. 

“Nossa, mãe, vou misturar essa farofa com esse negócio aqui (geleia de goiaba OI?). Ficou ooootimo”. Farofa voa para todo lado. “Experimenta?” Agora não, meu amor. Obrigada. Está chegando perto do horário da mamadeira e nada de chegar o doce. Meu Deus. Vai dar ruim. 

Olhares de todos os tipos enquanto você levanta o bebê e dá uma volta pelo restaurante. “Acelera o doce, moço, por favor? Ta dando fome no bebê”. Pois é. O olhar dele parece dizer “aqui não é um lugar para bebês, senhora”. Será que estou ficando doida? “É para já, senhora”. Talvez não. 

“Mãe, quero mais morango”, diz o garoto com a boca pingando chocolate. O bebê percebeu que já passou meia hora da hora do horário do “jantar”. Começa o caos. Risadinhas viraram pequenos gritos. Em minutos, serão grandes gritos. 

“A conta, por favor”. Olhares, mais olhares. “Paga, querido. Hoje não precisa de CPF na nota, meu amor”. Por favor, Deus, me ajuda. “Vamos, gente?”

Agora o bebê realmente chora e grita. Não tem como piorar. Peraí. Tem. Sempre tem. “Mãe, quero fazer cocô”. “Tem certeza que não dá para esperar, querido?” “Não. O cocô tá saindo. Olha, ele vai sair”. Sobe o som imaginário de “fuen fuen fuen fuen”. 

Há alguns anos, vendo essa cena, eu me perguntaria, : “por que diabos eles trouxeram uma criança e um bebê para cá?”

Hoje, não. Apesar dos olhares, todo mundo se empanturrou de fondue e o vinho estava realmente bom. 

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