Você amou seu filho imediatamente após ele nascer e olhar para ele? Ou você amou quando soube que ele habitava sua barriga? Foi assim à primeira vista?
Comigo não.
Me lembro da sensação de vazio ao olhar aquele bebê. De não pertencimento, de não entender quem éramos.
Eu quis muito um filho, mas ali, olhando para ele, cadê o sentimento desesperador de “eu não vivo mais sem você?” Não estava ali comigo.
Não fossem anos de terapia e muita leitura, talvez eu tivesse surtado. A gente cresce ouvindo, desde os contos de fada até os filmes de Hollywood, que o amor é imediato. Instantâneo. À primeira vista. Será mesmo?
Amor, para mim, é construção. Prédios não são erguidos do dia para a noite – só na China durante a pandemia, até onde eu sei. Por que então o amor seria?
Desconstruir as ideias que nos passam – e que vemos aos montes nesse Instagram – é dolorido às vezes. Parece solitário. Se não cuidar, você vira um terremoto de culpa.
Mas aí vem o tempo. Cada tijolo é colocado no lugar, no seu tempo. E de repente, você olha aquele construção e tcharam: bem-vinda ao amor mais sólido e irreversível que você já viu. Não te amei de primeira, filho, mas construí o mais sólido dos amores possíveis nesse mundo.